top of page
Buscar

A liberdade na parceria romântica

  • Foto do escritor: Eduardo Oliveira
    Eduardo Oliveira
  • 29 de jul. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 3 de jan.


Na graduação após ler um texto que no momento não recordo o autor, produzi a seguinte frese: Quanto mais livre de mim for o meu parceiro(a), mais condições ele terá de viver ao meu lado. Se faço alguém a única fonte de vida para mim, eu morro e, de alguma forma, mato esse alguém.


Depois de um percurso de estudos, quero debruçar sobre ela novamente e propor, neste texto, uma percepção profunda sobre a dinâmica das relações humanas explorando-a sobre à luz da psicanálise, especialmente dentro da teoria lacaniana.


Desejo e o Outro


Para a psicanálise lacaniana, o sujeito se constitui no campo do desejo, que é sempre mediado pelo Outro. O desejo não é algo autossuficiente, mas se organiza em relação ao desejo do Outro, sendo o Outro a instância simbólica que regula as normas, as leis e as interdições. No contexto da frase, a ideia de liberdade dentro de uma relação amorosa remete à necessidade de manter a alteridade, ou seja, reconhecer que o parceiro(a) não é uma extensão do eu, mas um Outro com seus próprios desejos, subjetividades e necessidades.


Jacques Lacan propõe que o amor é o desejo de ser desejado pelo Outro. No entanto, essa relação de desejo não pode ser reduzida à completa fusão entre os parceiros. Quando alguém faz do outro a "única fonte de vida", como diz a frase, ocorre uma anulação da diferença entre os sujeitos, um apagamento da alteridade que leva ao sufocamento da relação. Nesse sentido, Lacan aponta que o amor corre o risco de se transformar em algo opressivo quando a liberdade e o desejo do Outro não são respeitados.


O Perigo da Simbiose e a Morte Psíquica


Freud já havia abordado em suas teorias a questão da dependência emocional excessiva em termos de um estado de "simbiose psíquica". Quando um sujeito se funde ao outro em uma relação amorosa, ele se perde naquilo que Freud chama de "estado de enamoramento", em que o ego investe toda sua energia no objeto amado, esvaziando-se de sua própria autonomia. Esse tipo de relação, onde o parceiro(a) se torna a única fonte de vida e sentido, pode levar à "morte psíquica" do sujeito, pois ele se anula ao se projetar completamente no outro.


A frase "se faço alguém a única fonte de vida para mim, eu morro" ilustra precisamente esse risco. Lacan, ao retomar Freud, propõe que o desejo é sempre desejo de algo faltante, e o sujeito é estruturado em torno dessa falta. Quando um indivíduo busca preencher essa falta através de outra pessoa, ele não só se anula como também coloca uma carga insuportável sobre o outro. Como resultado, o parceiro(a) pode sentir-se sufocado e impossibilitado de exercer sua própria liberdade.


O Amor e a Liberdade


A liberdade, nesse sentido, é um dos pilares fundamentais para a saúde das relações. O outro não deve ser uma extensão do eu, mas uma pessoa autônoma, capaz de desejar por si mesma. Como Lacan sugere, o amor verdadeiro não é baseado na completa fusão de dois indivíduos, mas sim na aceitação da falta e do desejo que cada um carrega. A frase "quanto mais livre de mim for o meu parceiro(a), mais condições ele terá de viver ao meu lado" reflete essa ideia. Para que uma relação seja saudável, ambos os parceiros precisam ser livres para existir por si mesmos, sem serem reduzidos a objetos de desejo do outro.


Em termos psicanalíticos, essa liberdade também permite que o desejo permaneça vivo. O desejo, para Lacan, é sempre movido pela falta; é o que nos mantém em movimento. Quando o outro é completamente apropriado ou tomado como uma "fonte de vida", essa falta desaparece, e o desejo se esvai. O resultado disso é muitas vezes a estagnação da relação, ou a sensação de asfixia que faz com que o outro se afaste.


Conclusão


Portanto, à luz da psicanálise, a frase em questão aponta para uma verdade fundamental sobre o amor e as relações: o respeito pela alteridade e pela liberdade do outro é essencial para a preservação de uma relação saudável. Tentar transformar o parceiro(a) na única fonte de vida ou preencher completamente o vazio existencial por meio do outro é uma receita para a destruição tanto da relação quanto da subjetividade dos envolvidos. A liberdade, o reconhecimento da falta e a manutenção do desejo são elementos que permitem a continuidade de uma relação sem que nenhum dos parceiros precise se anular ou "morrer" em função do outro.




 
 
 

Comentários


  • Whatsapp
bottom of page